- A LETTER THAT (ALMOST) SAVED MY LIFE!

Na paisagem negra, que se estende de uma ponta a outra do horizonte em crispações de veludo, o princípio do Belo não se inverte, antes se reinventa numa outra imagem. Esteta de ti próprio, transvestido em mantos de escória e cinza escura, o Belo tresanda nos teus lábios, dispara no teu olhar. Não podem pois ser tuas essas palavras. E se é certo que o Belo não existe, e que, como o Amor, não passa de uma categoria vazia, carecida de objecto… então mais certo é que as formas não se dizem, apenas se observam no silêncio sepulcral que as transforma em monstros vivos que secretamente habitam. O que de facto interessa não é o aparato artificioso das formas e do seu enunciado, mas a solidão que sentimos inchar a cada momento que as amamos, a elas, pedaços de nada… e a perfídia amarga com que nos traiem, com que cravam vírgulas no pensamento, com que instauram a paragem no olhar, o delírio afogado do corpo no caminho, a morte efémera da carne na queda etérea. Não dizer as formas, eis a evidência suprema que tantos estetas não souberam contemplar.



*Fotografia: Tee Corinne

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